A nova Telepatia
O que acontece quando engenheiros biomédicos e uma equipe de neurocientistas se reúnem?
O início das pesquisas
O engenheiro biomédico da história era Dick Norman, que criou um microeletrodo do tamanho de uma aspirina e os neurocientistas eram John Donoghue e Misha Serruya, da Brown University em Rhode Island, EUA. Juntos, eles transformaram o microeletrodo em um sensor que poderia ser implantado em uma camada externa do cérebro chamada “córtex motor primário”, ou M1. O córtex motor, quando ativado, manda sinais para a medula, comandando os músculos do corpo a se movimentarem.

Pois bem, o que eles fizeram foi implantar o sensor no córtex motor primário de um macaco, na área que comanda a mão do animal, e conectar o sensor a um computador capaz de detectar essa atividade dos neurônios ali presentes. O computador então traduzia os impulsos elétricos do cérebro do macaco em comandos simples para o jogo de pinball, onde o objetivo é não deixar uma bolinha passar por duas barras móveis no espaço do jogo. Assim, quando tudo estava pronto, o macaco foi posto para jogar “com a força do pensamento”. Sem mexer um músculo sequer, o jogo passou a obedecer às instruções do cérebro do animal detectadas pelo sensor implantado!
Portas abertas para o futuro

Naturalmente, esta pesquisa lançou várias possibilidades para ajudar na reabilitação de pacientes paraplégicos e tetraplégicos, culminando no implante de um sensor no cérebro de um paciente tetraplégico em 2004. Os resultados foram animadores: quando o indivíduo pensava em mover sua mão, os sensores detectavam e realizavam comandos em computadores, além de abrir e fechar uma mão protética projetada para ele. É importante frisar que tudo isso era realizado através da atividade intencional do paciente de realizar um movimento voluntário.
Primeiro homem biônico
Em 2018, um time interdisciplinar que também contava com neurocientistas e neurocirurgiões teve a satisfação de implantar um braço robótico em Johnny Matheny, um homem que havia perdido o braço devido ao câncer. Durante o processo com a equipe, Johnny teve 128 chips implantados no cérebro, nas regiões do córtex motor responsáveis pelo envio de sinais elétricos para o braço e para a mão. Estes sensores são pequenos, ocupam o volume aproximado de um cartão bancário, e foi posicionado enquanto os pesquisadores mapeavam a localização exata de cada movimento intencional de Johnny.
A cirurgia foi um sucesso, e ele não necessitou sequer de treinamento para aprender a usar o braço biônico. Esta história de sucesso inspirou Elon Musk a dedicar novas pesquisas e possibilidades com seu programa Neuralink, que recentemente implantou com êxito um chip no cérebro de um suíno.

Então... ficamos com indagações. O que nos aguarda o futuro? Além de aplicações médicas e terapêuticas, será que poderemos um dia interagir com o ambiente e com outras pessoas sem realizar ações ou movimentos de algum tipo? O futuro já chegou: as bases da neurotecnologia já estão traçadas há quase 20 anos. Acompanhamos as próximas novidades!
Veja no vídeo abaixo o primeiro homem biônico coordenando movimentos do braço mecânico com a mente.
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Referências:
Bear, Mark F., author. Neuroscience : Exploring the Brain. Philadelphia :Wolters Kluwer, 2016.
APL’s Modular Prosthetic Limb Reaches New Levels of Operability. jhuapl.edu/PressRelease/160112