Neurociências para que(m)?
"... Mas, o que de fato buscamos e podemos encontrar quando estudamos neurociências e o comportamento humano? Se refletirmos por um momento, podemos chegar a três pontos principais..."

Durante a história da neurociência, a visão da humanidade sobre o cérebro mudou inúmeras vezes desde a antiguidade. Para o filósofo e médico grego Hipócrates (460-379 a.C.), o cérebro era a sede das sensações e da inteligência. Já para Aristóteles (384-322 a.C.), o centro do intelecto era o coração. Nesta visão, o cérebro servia apenas para resfriar o sangue, e era a eficiência deste resfriamento que ditava as bases da capacidade de um indivíduo ser ou não racional.
Hoje, os neurocientistas estudam o cérebro em pelo menos 5 níveis de análise: níveis bioquímicos (moléculas e neurotransmissores), celulares (como funcionam os neurônios), sistemáticos (estudo do sistema visual, por exemplo), comportamentais (estudo das funções neurobiológicas como sono e estresse) e cognitivos (funções mentais como memória e consciência).
Do cérebro para o cérebro
De qualquer forma, não importa a época: a neurociência é uma disciplina diferente. Por quê? Pense bem, qual outra disciplina é tão literalmente do cérebro para o cérebro? Não há outro órgão do nosso corpo que consiga a dupla façanha tanto de escrever como de ler um livro (ou um post) sobre si mesmo. Assim, existe sempre uma dinâmica filosófica muito interessante que se coloca de pano de fundo para aqueles que usam seus cérebros para entender sobre o cérebro.
Neurociências Para Que(m)?
Outra distinção sobre a nossa disciplina é que a neurociência existe como uma aspiração antiga que o ser humano possui de compreender como o ambiente externo nos afeta e como surgem as nossas respostas a ele. Quem busca compreender nossa neurobiologia pode estar atrás de muitas respostas. Mas, o que de fato buscamos e podemos encontrar quando estudamos neurociências e o comportamento humano? Se refletirmos por um momento, podemos chegar a três pontos principais:
(1) O estudo da nossa neurobiologia pode ajudar a explicar e justificar a estrutura interna dos nossos pensamentos, ações e sentimentos. Compreender as regras do nosso funcionamento como espécie abre as portas para muitos insights preciosos;
(2) O segundo ponto importante no estudo do cérebro é a busca de certezas e dos padrões do nosso comportamento escondidos por trás da nossa biologia. Sempre que conseguimos estabelecer parâmetros gerais, nos tornamos mais conscientes e possuímos mais recursos que podem nos ajudar com as nossas escolhas e decisões da vida cotidiana;
(3) O terceiro ponto está inter-relacionado com os outros dois, e ele diz respeito ao emprego dos conhecimentos neurocientíficos e da combinação com outros a fim de estabelecer princípios coerentes para que possamos manipular positivamente a nossa realidade conforme nossas necessidades e desejos para o futuro.

E você? O que você busca nas neurociências?
Ref.: Finger, S. Minds behind the Brain: A History of the Pioneers. Oxford University Press, 1999. ISBN: 9780195085716